terça-feira, 31 de julho de 2007

A Luta por Sociologia e Filosofia é nossa também!

Reunidos em SP, especialistas propõem novas formas de aprendizado nas escolas

Coroamento de uma luta iniciada há décadas, o Encontro é a afirmação da vitória conquistada em 7 de julho de 2006, quando a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, por unanimidade, a inclusão obrigatória das disciplinas de Sociologia e Filosofia no currículo do Ensino Médio no País

Contudo, muito mais do que comemorativo, o Encontro é o marco do início de uma nova luta, ainda mais desafiadora: definir os conteúdos, a abordagem, a qualificação dos professores; além dos instrumentos para concretizar a implementação do estudo dessas importantes ferramentas cognitivas para a formação humanista e crítica da juventude brasileira.
Foi assim que os participantes da mesa de abertura caracterizaram o encontro, que marca essa trajetória de conquistas e que vai lançar reflexões sobre os próximos desafios a serem percorridos. Entre eles, estavam representantes de entidades estudantis, de professores, sociedade civil e científicas.

A presidente da UNE, Lúcia Stumpf; e o presidente da UBES, Thiago Franco, compareceram. O Ministério da Educação estava representado pela professora Lúcia Helena Lodi. O deputado federal Ribamar Alves (PSB-MA), autor da lei que torna obrigatórios os ensinos de Sociologia e Filosofia, também participou, junto com o deputado estadual paulista Simão Pedro (PP). Os Conselheiros do CNE, César Callegari e Adeum Sauer também prestigiaram o evento.
Benjamin Constant...Um dos principais organizadores do Encontro, o vice-presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, professor Leujeune Mato Grosso, fez um breve resgate histórico do surgimento da disciplina de Sociologia no Brasil. Relembrou o "sonho de Benjamin", ao se referir a um dos responsáveis pela implantação do ensino de Sociologia no país. Resgatou a parceria desenvolvida entre o sindicato e a Apeoesp (o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) na batalha pela obrigatoriedade das disciplinas nos currículos do Ensino Médio.

Essa luta teve como marco a aprovação da LDB em 1996, que fincou os pilares do pensamento neoliberal no ensino brasileiro. "Com muita luta, nós conseguimos aprovar por unanimidade na Câmara dos Deputados o projeto do então deputado federal Padre Roque, que tornava obrigatório o Ensino de Sociologia e Filosofia. Seguindo para o Senado, o projeto foi aprovado por maioria dos senadores e, ao ser encaminhado para sansão presidencial, foi vetado pelo ‘Príncipe da Sociologia’, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É preciso dizer bem claro que o governo de um sociólogo vetou a obrigatoriedade do Ensino de Sociologia e Filosofia nas nossas escolas. Foi preciso o governo de um operário para que essas disciplinas fossem inseridas no currículo brasileiro", sublinhou veementemente o professor Mato Grosso.

Ao ressaltar o grande significado da realização do Encontro, Mato Grosso fez questão de mostrar que aprovar a obrigatoriedade foi a parte mais fácil da luta. "O mais difícil começa agora, que é a definição dos parâmetros para se lecionar Filosofia e Sociologia para os jovens do Ensino Médio, essa é toda uma jornada a ser traçada e as reflexões para isso serão lançadas aqui", disse.
... e Florestan FernandesO presidente da UBES, Thiago Franco, foi muito aplaudido ao lembrar que naquele dia (22) comemora-se também o aniversário de nascimento do sociólogo Florestan Fernandes, um dos principais defensores da educação pública no Brasil.
Ele afirmou que não basta se aprovar a obrigatoriedade. "Nós queremos influenciar na forma como esse ensino vai ser ministrado, com quais objetivos e compromissos essas disciplinas serão inseridas nos currículos", disse. Thiago aproveitou para convocar os presentes a se unirem junto ao movimento estudantil no mês de Agosto, quando será realizado entre os dias 20 e 24 a "Jornada Nacional de Lutas em defesa da Educação".

A presidente da UNE, Lúcia Stumpf, falou da luta do movimento estudantil contra a formação tecnicista e por uma formação capaz de desenvolver as potencialidades humanas. "Isso pode contribuir para a formação de uma geração mais crítica que, certamente, poderá protagonizar mudanças importantes no nosso País, reafirmando sua inserção de forma soberana no cenário mundial", destaca.
Valorização profissionalO secretário de Assuntos Educacionais da Contee, José Thadeu, advertiu que não haverá ensino de Sociologia e Filosofia de qualidade se outros fatores não forem garantidos. "É preciso ter mais investimentos em educação para melhorar a estrutura física e material das escolas; é urgente valorizar o profissional da educação, com a adoção de um plano de carreiras, de formação continuada e melhoria salarial; é imprescindível lutarmos para que haja uma mudança na estrutura social do País, porque não estamos aqui para lutar pela igualdade de oportunidades, isso a sociedade que está ai já dá, nós estamos aqui para lutar pela igualdade de condições", afirmou.

José Thadeu salientou, ainda, que na luta em defesa da Educação de qualidade faz-se urgente exigir que o governo federal normatize o Ensino Privado Superior, que permanece se expandindo de forma acelerada. "Ainda surgem instituições superiores de fundo de quintal que estão formando péssimos profissionais. Não podemos permitir que a demanda por professores de Sociologia e Filosofia seja atendida por essas instituições, que não têm compromisso com a qualidade, não podemos permitir que se abra mais um espaço para a exploração de mercado", destacou Thadeu, lembrando da campanha da Contee contra a Mercantilização do Ensino Superior.

Jovem na escolaA presidente da Anfope, professora Helena de Freitas, ressaltou a necessidade em se discutir a formação dos profissionais que irão atuar no ensino destas disciplinas para a Educação Básica. Ele defende que isso seja feito a partir de um olhar interdisciplinar que contemple a situação da juventude, suas necessidades no âmbito da ciência, da cultura e do trabalho e, principalmente, a contribuição para superar a grande exclusão dos jovens que se encontram fora do sistema educacional, lembrando que apenas 43% dos jovens em idade escolar encontram-se matriculados no Ensino Médio.
O coordenador do Fórum Inter-americano de Sociologia, Emanuel Appel enfatizou que "tanto a Filosofia quanto a Sociologia possuem um ponto de vista crítico que pode ser fundamental para a juventude, por ser um instrumento para a sua emancipação, tornando-os donos de sua autonomia intelectual, tornando-os capazes de fazer um uso público de sua razão".

A Apeoesp, co-organizadora do evento, foi representada pelo seu presidente Carlos Ramiro de Castro. Ele registrou o importante significado da inclusão das disciplinas de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio e destacou um outra proposta: aumentar o tempo que os alunos permanecem na escola. "Temos uma das menores cargas horárias da América Latina, nossos alunos ficam em média 3 horas e meia na escola, isso não é compatível com uma educação qualificada e emancipadora. Temos que elevar a carga horária, e discutir uma nova estrutura curricular para o nosso País", disse.

Ao final da abertura, os conselheiros do CNE receberam uma homenagem dos presentes pela luta desenvolvida para garantir a vitória que tornou possível a realização daquele Encontro.
Nesta segunda e terça-feira, várias mesas temáticas irão debater os desafios que estão lançados para garantir a implantação dessas disciplinas no Ensino Médio.


Fonte: http://www.ubes.org.br/